Já tinha pensado várias vezes em deletar minha conta do Facebook por preocupação com os meus dados. Embora eu seja usuária de inúmeras plataformas (inclusive Instagram e Whatsapp, que também pertencem ao Facebook), nenhuma outra permite uma análise tão minuciosa do meu comportamento. Recomendo esse vídeo do Marco Gomes sobre o assunto.

Mas sempre deixava para depois. Gostava da ferramenta como meio de comunicação e não queria abrir mão dela.

Ainda assim, era algo que sempre martelava na minha cabeça. O uso dos meus dados. E foi também um dos motivos que me levaram a construir este blog aqui ao invés de publicar meus textos em alguma rede social já existente (e sobre esse assunto, eu indico a leitura deste post, do Luciano Ramalho.

Em paralelo, seguia utilizando o Facebook e fazendo vista grossa para os riscos. Até as eleições. Até ver pessoas que eu conheço há uma vida inteira apresentando um comportamento inesperadamente agressivo e justificando o injustificável. Racismo, homofobia, xenofobia, machismo… tudo se tornou aceitável. Tortura sendo relativizada. Doía até mais do que quando saía da boca do próprio candidato. Porque eu conhecia aquelas pessoas e jamais imaginaria nada parecido. Acompanhar essa transformação me deixou destruída. E foi quando eu comecei a prestar atenção ao papel do Steve Bannon, o mesmo do escândalo da Cambridge Analytica, nas eleições daqui do Brasil. E eu recomendo fortemente este vídeo, publicado no Canal do Slow. A descrição contém uma lista imensa de referências utilizadas para a construção do vídeo, é extremamente bem fundamentado… e infelizmente, traz à tona um assunto grave e que merece a atenção.

Desde então, eu não consegui mais parar de pensar nisso. No papel fundamental da tecnologia para entregar o poder a alguém com valores condenáveis. Aparentemente, eu não fui arrastada pela campanha de Bannon. Mas fico pensando em quantas das minhas ações podem ter sido influenciadas e decididas através da coleta dos meus dados e da publicidade agressiva de diferentes organizações que hoje possuem uma análise do meu comportamento que nem eu tenho… e decidi que não quero que isso aconteça.

E o que podemos fazer contra isso? Nem todo mundo quer ou pode encerrar a conta no Facebook, seja por interesse, por motivos de estudo ou trabalho. Mas hoje, se eu continuasse por lá, evitaria a superexposição. Evitaria entregar todos os meus traços através de likes, quizzes, grupos.

E claro, a maior arma contra a manipulação, continua sendo o conhecimento. Para proteger as pessoas dessa bolha, tente valorizar e divulgar o trabalho de quem produz conteúdo e tem compromisso real com a sociedade. As pessoas precisam aprender a analisar com senso crítico aquilo que recebem.

Eu vou tentar citar alguns aqui (além dos mencionados aí em cima): O Miguel Nicolelis é um dos maiores cientistas do mundo e tem forte preocupação com a popularização da Ciência. A Mila Laranjeira, o Pirula e todos os integrantes do BlaBlaLogia tem a divulgação científica como principal objetivo. A Cecília do Lago e o Luiz Fernando Toledo fazem um excelente trabalho com dados no Estadão e sempre trazem conteúdo de altíssima qualidade. O Fernando Masanori tem investido um esforço descomunal em disseminar o conhecimento de tecnologia para que diferentes tipos de público possam aplicá-la na solução de problemas já existentes. Assim como o Minas Programam, um projeto incrível de formação de mulheres na tecnologia, que se preocupa em levantar as questões sociais com a devida importância ao longo do programa. O Turicas é autor do fantástico Brasil.IO, que disponibiliza dados em formato acessível para todos. O Cuducos é co-fundador do Serenata de Amor, projeto open source para controle social da administração pública. A Julia Galef se dedica a estimular o pensamento crítico, é co-fundadora do Center for Applied Rationality e tem um podcast chamado Rationally Speaking. E tantos outros…

Seguimos em frente. Força!! Ninguém solta a mão de ninguém. Continuo à disposição em outros meios de contato (disponíveis no rodapé do blog).